"Eu posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o direito de dizê-las" - Voltaire

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Análise de Site

Na aula do dia 26, analisamos em sala de aula o site da revista americana New Yorker. Fizeram parte dessa conversa os alunos George Guilherme Soares e Tamyres Mattos.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

E as mulheres, hein?

Texto baseado no vídeo “Todas elas juntas num só ser”

Por George Guilherme Soares

Você já se apaixonou por mim hoje?”. Essa frase deveria estar timbrada na certidão de nascimento das mulheres. Outro dia parei para observá-las e só pude concluir uma coisa: elas não são daqui. Nem de Vênus. São espiãs. Espiãs de Deus, disfarçadas entre nós. Pare para refletir sobre o sexto-sentido. Alguém duvida de que ele exista? E como explicar que ela saiba exatamente qual mulher, entre as presentes, em uma reunião, seja aquela que dá em cima de você? E como explicar quando ela antecipa que alguém tem algo contra você e, principalmente, quando aquela sua namorada está em iminência de virar uma página virada na sua vida? 

E quando ela diz que vai fazer frio e manda você levar um casaco? Rio de Janeiro, 40 graus, você vai pegar um avião pra Belo Horizonte. Não é o tempo nem de escutar Faroeste Caboclo e Stairway to heaven que você já está em Confins. Ela fala pra você levar um casaco, porque "vai fazer frio". Você não leva. O que acontece? O avião fica preso no tráfego, em terra, por quase duas horas, depois que você já entrou, antes de decolar. O ar condicionado chega a pingar gelo de tanto frio que faz lá dentro! "Leve um sapato extra na mala, querido. Vai que você pisa numa poça..." Se você não levar o "sapato extra", meu amigo, leve dinheiro extra para comprar outro. Pois o seu estará, sem dúvida, molhado...

Já viram como ela conversa com amiga só pelos olhos? Como você consegue pedir a ela pra mudar de tom de fala e até assunto só com os olhos?  E o sarcasmo? Os homens não entendem nada sobre sarcasmo. É preciso, para ser sincero, concluir que a palavra "sarcasmo" significa absolutamente qualquer coisa para a gente. Para elas não.  "Sarcasmo": o último dos analfabetos sabe que vem do grego e latim. Muito chique, essas etimologias fajutas - realmente fajutas, quando elas, na verdade, conhecem a assustadora polissemia da origem latina 'sarcasmus' e as neutralidades factofórum do grego 'sarkasmos'.

E não satisfeitas em ensinar a vida elas insistem em ensinar a vivê-la. É covardia. Mais do que isso, querem ela de forma íntegra, oferecendo amor incondicional e disponibilidade integral. Fala-se em "praga de mãe", "conselho de mãe",  "amor de mãe", "amizade de mãe", "coração de mãe”...

Vocês, mulheres, choram? Ou extravazam? Ou vazam? Homens também choram, mas é um choro incomum, frio e lânguido.  As lágrimas das mulheres têm um “não sei quê”  de naturalidade e descompromisso, “um não sei quê” de sutil, “um não sei quê” de paixão. Acho até que tem uma pitada do próprio Criador, porque só assim para nos enfeitiçar de um modo tão cabal que distração ao conversar com uma chega a ser pleonasmo.

É choro feminino. É choro de mulher...

Eu queria ter nascido mulher. Me transformar seria pouco. Creio que a mágica esteja nos cromossomos duplamente iguais que elas carregam. Só assim para eu poder gerar uma vida. Rir à toa se quiser. Chorar mais sem ter que me preocupar com retaliações. Seduzir alguém e ter o prazer incomparável de ser conquistado.

Creio que finalmente descobri o porquê - e a única certeza, diga-se- de vocês "estarem nas nuvens" no momento em que se apaixonam. O amor tem como última instância um conceito divino. D'Ele. Nada mais lógico do que vocês sentirem a presença do Arquiteto nessas situações. Esse é o único axioma diante de tanta turbulência cruelmente enlouquecedora.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Racismo Tupiniquim

Por George Guilherme Soares e Vitor Straliotto

Na infame entrevista ao CQC, o comentário de Bolsonaro pode ter sido três coisas: um incompreendido, ou uma burrice sem tamanho – espera-se que um legislador saiba mais sobre a lei de seu próprio país – ou um grande gesto de sinceridade involuntária. Uma coisa é verdade: Bolsonaro pode até (segundo ele) não ser racista, mas o Brasil definitivamente é. O Brasil foi erguido, como nação, em bases racistas. Quando nosso império canavieiro foi fundado, em 1822, os brancos eram preguiçosos demais para trabalhar. Hoje, são covardes demais para admitir que são racistas, e que os negros estão em desvantagem. As famílias brasileiras são racistas, nossos legisladores milicofrênicos são racistas e por mais absurdo que pareça, segundo um dos entrevistados (que é racista), os negros são racistas. Talvez não sejam, mas com certeza o Brasil é. Nosso blog parte desse pressuposto, dessa máxima que – quem sabe – um dia poderá ser comprovada cientificamente, mesmo admitida, enfrentada sem cinismo politicamente correto, até mesmo, apagada de nossa história recente. Aqui fica uma iniciativa para olhar de frente um de nossos maiores demônios, para os que pertencem a esse grupo e para os que desejam compreender o preconceito. Segue a transcrição de uma entrevista dada por um rapaz, que, para preservar sua integridade física e social, decidimos chamar de M.:

[em negrito, Branco ou Preto]: antes de qualquer coisa, você se considera racista?

Bom, eu me considero um "racista parcial". Porque eu não odeio os negros, ou qualquer outra etnia, mas não permito uma mistura. Eu não gostaria que meus filhos se misturassem, primeiro porque isso é uma formação cultural que tenho; vem passando de pai para filho. Por mais que a minha família seja misturada, ela tem certas tradições. Se você for olhar bem, todo brasileiro é misturado, mas ele não admite ser, ele não aceita. Por exemplo, ele é branco e tem nariz largo [faz um gesto representando feições associadas aos negros], mesmo assim ele acha que é branco. Ele é branco mas tem cabelo duro, beição. Ele acha que é branco: mal sabe ele que é um mestiço, de certa forma. Eu me considero racista sim, entendeu, mas, é aquele caso: eu acho que isso é cultural. O brasileiro é racista por natureza.

Você acredita que a mídia ajuda a construir um estereótipo ruim dos negros?

É, com certeza, mas, eu acho que o racismo parte mais do negro do que do branco. O próprio negro quer ser branco. Isso já é uma forma de racismo. Ele dá a entender que é inferior.Ele não tem que querer ser igual ao branco, ele tem que querer ser igual a um negro, ser o que ele é, abraçar a causa dele.

Você conhece muitos racistas? Você tem muitos parentes ou familiares racistas?

Na minha família, 70% [das pessoas] é racista. Porque, por incrível que pareça, a maioria das pessoas que eu conheço, amigos meus são racistas mas não admitem ser. Eles tem aquela típica atitude racista que aparentemente é boba: 'ah, o cara entra em um estabelecimento – só porque ele é magrinho, preto, cabeça raspada e está maltrapilho, ele é um ladrão. É ladrão, é mendigo'. Mas isso aí é um estereótipo cultural, e isso não tem como mudar, porque vem de geração em geração. Quando você escuta aquilo, desde pequeno, aquilo entranha no seu pensamento e não sai nunca mais. Por mais que eu tente me esforçar [pausa] Eu não me considero uma pessoa com atitude racista, eu não tenho preconceito, mas eu sou um cara totalmente anti-miscigenação.

Você não deixaria que seus filhos(as) tivessem parceiros(as) negros.

Não, não deixaria. Eu diria assim: 'filho, você quer' [pausa e faz observação] Gente é igual sapato: você não anda com um sapato preto, e outro branco. Você anda ou com os dois pretos, ou com os dois brancos. 

Então voce considera que é uma questão de formação?


De formação. Se você criar seu filho e ensinar: "é legal você ter uma atitude de aceitar o próximo independente da cor" ou não, "você tem que saber que todos vieram do mesmo lugar, cor não influencia em nada". De qualquer maneira, eu não fui criado assim, por isso eu tenho essa maneira de pensar. Eu não acho que sou melhor ou pior que eles, eu só não aceito a mistura. Eu tenho amigos negros, gosto deles como se fossem irmãos, mas se tivesse que fazer a opção: ' Rapaz, qual você escolheria para ter um filho: uma mulher branca ou uma mulher negra?', bom, eu escolheria uma mulher branca.

Canal no Youtube!

Por Guilherme Soares e Vítor Straliotto

Olá amigos! Agora o Preto ou Branco tem um canal no Youtube – entrevistas com opiniões sobre o racismo e outros conteúdos exclusivos, confira:

Entrevista com um racista auto-declarado (parte 1) 

Entrevista com um racista auto-declarado (parte 2)

Nosso e-mail para críticas e sugestões: poub1888@gmail.com
 

"70% da minha família tem preconceito contra negros"

Pesquisa mostra que preconceito racial existe tanto nas etnias negras quanto nas brancas

Por George Guilherme Soares e Vitor Straliotto



M. é jovem. Tem 20 anos, dois irmãos, pertencente à classe média carioca e racista assumido. Ele se enquadra no perfil descrito pela pesquisa da professora e historiadora da USP, Lilia Moritz Schwarcz, Para 91% dos entrevistados, os brancos têm preconceito de cor em relação aos negros. No entanto, quando a pergunta é pessoal, só 3% (excluindo aqui os autodeclarados pretos) admitiram ter preconceito. Nesse quadro se encaixa M., que afirma:



"70% da minha família tem preconceito com negros. Nunca casaria com uma. Não consigo desenvolver a ideia de casar com alguém dessa raça", diz.







Uma pesquisa do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) em 2007 mostrou a diferença entre raças no Brasil pelo viés financeiro. De acordo com o Ipea, a pobreza no Brasil tem cor. Apesar de representarem quase 50% da população, os afrodescendentes estão condenados a receber os menores salários, estão em maior número no mercado informal e também nas estatísticas oficiais de desempregados. 
Um dos principais fatores para chegarmos nesse número advém do fato de uma menor absorção do negro pelo mercado de trabalho, seja pelo grau de instrução, seja por outros motivos, identificado na pesquisa como 18,5% do total de motivos para rejeição desse tipo de mão de obra.Esse número confirma que há em nosso dia-a-dia uma ratificação quase por debaixo dos panos do que acontece no âmbito econômico.

A pesquisa apontou o que, na prática, muito se vê em nosso cotidiano: existem pessoas que, assumidamente, realizam uma segregação racial pelo simples fato de rejeitarem um outro tipo de etnia. Assim, o que não mudou desde 2007 para cá foi a constatação, aparentemente contraditória, de que o brasileiro reconhece o preconceito no outro, mas não em si mesmo. Ou, como já definiu Schwarcz, ouvida pela reportagem, "todo brasileiro se sente como uma ilha de democracia racial, cercado de racistas por todos os lados".

Foi igualmente alto (63%) o percentual de entrevistados que afirmaram que negros têm preconceito em relação a brancos, mas somente 7% (excluindo os brancos) dizem ter, eles mesmos, algum preconceito.

Também caiu (de 22% para 16%) a proporção de brasileiros que se sentiram discriminados por sua cor. Esse percentual, no entanto, chega a 41% entre autodeclarados pretos.

Para Schwarcz, o que mudou de 1995 para 2008 foi a popularização do discurso politicamente correto. Ela, no entanto, demonstra algum ceticismo com relação ao menor percentual de concordância com afirmações preconceituosas.

"As coisas mudaram, mas nem tanto. As pessoas reagem mais às frases preconceituosas, como se já estivessem vacinadas. É positivo ver que há maior consciência, mas é preocupante constatar que a ambivalência se mantém. Parece que os brasileiros jogam cada vez mais o preconceito para o outro. 'Eles são, mas eu não'."

Manolo Florentino, historiador da UFRJ, tem uma opinião semelhante. "O que cresceu foi sobretudo o pudor. Para tanto deve ter colaborado, em alguma medida, a disseminação da praga politicamente correta. Se for este o caso, estaremos mais uma vez frente à constatação de que nosso racismo é envergonhado, que, afora casos patológicos, o brasileiro só expressa seu preconceito racial através de carta anônima."

domingo, 1 de maio de 2011

Racismo à brasileira

No primeiro período da faculdade me deparei com um dos assuntos que mais me chama atenção até hoje: relativismo cultural. Basicamente, isso significa dizer de modo acadêmico que devemos sempre ver algo de um modo diferente daquilo do que ele é geralmente proposto. Assim, vejo o objeto deste blog pelo viés daqueles que geralmente são tidos como "agressores". Como falei no post anterior, porém desejo frisar aqui, não irei levantar bandeiras ou criar um link para pessoas se filiarem à Klu Klux Klan. Quero apenas, discutir uma tese que o racismo que se configura no Brasil é o oposto do que existe, por exemplo, nos Estados Unidos.

Percebemos que há um racismo diferente de acordo com a cultura. Aliás, é difícil imaginar um negro como Barack Obama sendo eleito presidente - do Brasil. Dos Estados Unidos, com certeza. Lá um negro chegou ao cargo secretário de Estado, e foi substituído por uma negra.

A diferença entre um país e outro é essa. Lá o racismo é uma questão nacional. Aqui uma ficção de integração dilui a questão racial. E se a questão não existe, se ninguém é racista, por que nos preocuparmos com denominações corretas ou incorretas? Só quando a ficção é desafiada, como no caso das cotas universitárias, é que aparece o apartheid que não se reconhece.

Roberto Damatta discorre sobre isso em "Carnavais, malandros e heróis", principalmente no capítulo "Você sabe com quem está falando?".

Um dos marcos das relações raciais nos Estados Unidos não foi a primeira vez em que um negro interpretou um herói no cinema, provavelmente em alguma coisa do Sidney Poitier. Nem a primeira vez em que um negro e uma branca, ou vice-versa, namoraram na tela.

Foi a primeira vez em que um negro foi o vilão do filme. Colin Powell e Condoleezza Rice, que chegaram a secretários de Estado, e o próprio Obama, devem suas carreiras a esse vilão histórico, que significou o fim dos estereótipos e a aceitação, sem "mimimis", de que negro também pode ser ruim, igual a branco.

Se a cor da pele não determinava mais que ele fosse sempre retratado como um inferior virtuoso ou uma vítima, também não o descriminava de outras maneiras. Powell e Rice levaram essa reversão de esteréotipos ainda mais longe. Os dois são do partido republicano. Como Clarence Thomas, único juiz negro da Suprema Corte americana que também é um dos seus membros mais conservadores.

A eleição de Obama é uma prova dessa transformação da questão racial no país, uma vitória numa guerra por direitos iguais que lá - ao contrário do Brasil - nunca foi disfarçada, ou desconversada. Aqui a miscigenação significou que alguns quase-negros, ou só um pouco afro-descendentes, chegassem ao poder, mas miscigenação entre nós não tem significado integração por vias naturais, e sim apenas outra forma de despolitizar e adiar a questão.

George Guilherme