"Eu posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o direito de dizê-las" - Voltaire

domingo, 1 de maio de 2011

Racismo à brasileira

No primeiro período da faculdade me deparei com um dos assuntos que mais me chama atenção até hoje: relativismo cultural. Basicamente, isso significa dizer de modo acadêmico que devemos sempre ver algo de um modo diferente daquilo do que ele é geralmente proposto. Assim, vejo o objeto deste blog pelo viés daqueles que geralmente são tidos como "agressores". Como falei no post anterior, porém desejo frisar aqui, não irei levantar bandeiras ou criar um link para pessoas se filiarem à Klu Klux Klan. Quero apenas, discutir uma tese que o racismo que se configura no Brasil é o oposto do que existe, por exemplo, nos Estados Unidos.

Percebemos que há um racismo diferente de acordo com a cultura. Aliás, é difícil imaginar um negro como Barack Obama sendo eleito presidente - do Brasil. Dos Estados Unidos, com certeza. Lá um negro chegou ao cargo secretário de Estado, e foi substituído por uma negra.

A diferença entre um país e outro é essa. Lá o racismo é uma questão nacional. Aqui uma ficção de integração dilui a questão racial. E se a questão não existe, se ninguém é racista, por que nos preocuparmos com denominações corretas ou incorretas? Só quando a ficção é desafiada, como no caso das cotas universitárias, é que aparece o apartheid que não se reconhece.

Roberto Damatta discorre sobre isso em "Carnavais, malandros e heróis", principalmente no capítulo "Você sabe com quem está falando?".

Um dos marcos das relações raciais nos Estados Unidos não foi a primeira vez em que um negro interpretou um herói no cinema, provavelmente em alguma coisa do Sidney Poitier. Nem a primeira vez em que um negro e uma branca, ou vice-versa, namoraram na tela.

Foi a primeira vez em que um negro foi o vilão do filme. Colin Powell e Condoleezza Rice, que chegaram a secretários de Estado, e o próprio Obama, devem suas carreiras a esse vilão histórico, que significou o fim dos estereótipos e a aceitação, sem "mimimis", de que negro também pode ser ruim, igual a branco.

Se a cor da pele não determinava mais que ele fosse sempre retratado como um inferior virtuoso ou uma vítima, também não o descriminava de outras maneiras. Powell e Rice levaram essa reversão de esteréotipos ainda mais longe. Os dois são do partido republicano. Como Clarence Thomas, único juiz negro da Suprema Corte americana que também é um dos seus membros mais conservadores.

A eleição de Obama é uma prova dessa transformação da questão racial no país, uma vitória numa guerra por direitos iguais que lá - ao contrário do Brasil - nunca foi disfarçada, ou desconversada. Aqui a miscigenação significou que alguns quase-negros, ou só um pouco afro-descendentes, chegassem ao poder, mas miscigenação entre nós não tem significado integração por vias naturais, e sim apenas outra forma de despolitizar e adiar a questão.

George Guilherme

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