"Eu posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o direito de dizê-las" - Voltaire

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Respeitem os cabelos brancos

O rápido envelhecimento da população brasileira, seguindo tendência mundial, e a maior dependência do rendimento do idoso no sustento familiar torna muito oportuno o debate sobre a situação desses cidadãos na sociedade.

O Brasil, que durante décadas foi apontado como um país jovem, vai, aos poucos, enxergando uma imagem mais madura na frente do espelho. Segundo o Censo de 2010, do IBGE, menos da metade da população (44,7%) está abaixo dos 24 anos. Em 1991 eram 54,2% nessa faixa etária e 4,3% dos brasileiros acima de 60 anos eram chefes de família. Hoje, 5,3% dos idosos são responsáveis pela sobrevivência familiar.

O preconceito contra o idoso está presente nessa sociedade e, com freqüência, é manifestado pela falta de sensibilidade e de solidariedade, numa atitude em que torna depreciativo o destino inevitável de todos nós: sermos testemunhas do tempo.

O próprio adjetivo “velho” já configura um “quê” preconceituoso, dizendo que o termo significa: obsoleto, antiquado e gasto pelo uso, mas esquecemos que na linguagem coloquial “meu velho” traduz camaradagem, confiança, amizade e companheirismo – este é o real significado do envelhecimento.

Dona Lourdes Garcia Velasquez, moradora de Copacabana há 
39 anos | Créditos: George Soares
Moradora de Copacabana, considerado o bairro do Rio de Janeiro com a maior população presente na faixa etária acima dos 65 anos, a socióloga Lourdes Garcia Velasquez, de 73 anos, diz que os países desenvolvidos primeiro ficaram ricos, depois envelheceram. Os países em desenvolvimento estão envelhecendo antes de ficarem ricos. “Essa inversão é natural para nossa conjuntura social. Negar, ou melhor, rejeitar a terceira idade é um regresso não somente social, mas econômico. Hoje, essa população movimenta cerca de R$8 bilhões em produtos e serviços”, afirma.

Na sociedade atual, em que o tempo e a velocidade ditam a ordem e a intensidade das relações, o idoso tem seu próprio ritmo, o que não quer dizer que seja menos competente. Existem limitações, sim, que são plenamente superadas pela experiência. Ainda, de acordo com a socióloga, ver o idoso como problema é ter uma visão míope do próprio futuro.

A geriatra da Universidade Aberta da Terceira Idade (Unati), Carla Cristina Vieira, aponta que para assegurar o envelhecimento saudável é preciso investir não apenas em políticas de saúde, mas também em educação, programas sociais e até no meio ambiente. “Não adianta convencer as pessoas de que ser sedentário não é uma boa, se elas vivem numa cidade violenta, com iluminação inadequada, com péssimo transporte público e, no pior das conjunturas, com uma população que os rejeita pelo simples fato de terem mais idade e serem considerados inapto ou que eles [idosos] ‘desapareçam aos poucos’ e graciosamente do resto da sociedade”, completa.  

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