"Eu posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o direito de dizê-las" - Voltaire

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Desigualdade Racial

Por Vítor Straliotto

 Hoje, setores que combatem os programas de cotas raciais e movimentos afirmativos discutem a existência de uma sociedade brasileira "pós-raça". Outros procuram embasar opiniões na crença de uma suposta tolerância pela diversidade étnica, em nosso país. A verdade é que nossa nação não trata com o mesmo respeito os negros e os brancos. As diferenças são mais ou menos óbvias, dependendo do contexto. Oportunidades de emprego não são iguais, e principalmente no que diz respeito à aparência, às vezes, bom pode significar "de pele clara".

No Youtube, o canal jornalístico Journeyman Pictures divulga mini-documentários freqüentemente, sobre temas como racismo, ultranacionalismo, neo-fascismo, desigualdades sociais e exploração sexual. Um de seus documentários, intitulado Flawed Beauty (Beleza Maculada), fala sobre o racismo na publicidade na e moda brasileira.

Brasileiros não gostam de padrões de beleza não-europeus. Como cidadãos de um país que tem quase metade de sua população de cor negra, deveríamos nos envergonhar. Há cidadãos que batem no peito para dizer que o racismo "não existe", ou é "fraco" em nossa nação. Há obras inteiras dedicadas a negar nossa condição como segregacionistas. "Não somos racistas", anuncia o título de um livro de Ali Kamel. Bom, de fato, somos racistas. Nossa publicidade não conhece mulheres belas, se essas forem negras. Nossas modelos mais famosas são germânicas, ou de qualquer outra linhagem européia. Mesmo os padrões de galã, de homens "desejáveis", não incluem os de tez escura. Nossa própria definição de beleza – a nossa, de uma população majoritariamente mestiça, de índios e negros, principalmente – é branca.

Por que negar sistematicamente a realidade? Porque negar categoricamente nossa história? Não precisamos, devemos, temos a obrigação de encarar os erros de nossos antepassados racistas – e abandonar nosso próprio racismo – para realmente acabar com as desigualdades raciais. Não é apenas uma questão de dever, é uma terapia social, coletiva. Enquanto for necessário, devemos apoiar vigorosamente os movimentos afirmativos, e na opinião de quem vos escreve, as cotas. Negar nosso passado só tem um propósito: desestruturar os jovens movimentos de consciência negra brasileiros, que são tão importantes quanto quaisquer outros movimentos de defesa da cidadania e dos direitos humanos.

A pesquisadora da Uerj Carmem Sílvia Moretzsohn Rocha falou sobre o discurso "pós-racial" em entrevista para a agência de notícias científicas da faculdade (Agenc):

“Acho sintomático que, depois de tanto tempo massacrando os negros e índios, venha à tona essa idéia de geração pós-racial. Isto é, agora que os movimentos sociais reivindicam seu espaço, as questões raciais começam a ser combatidas como uma ameaça à igualdade. Na verdade, uma igualdade que nunca existiu. Penso que não devemos pular etapas”

Ela acredita que "o momento é de reconhecer as diferenças e combater as desigualdades. Vivemos a era das políticas das identidades em que as mulheres, os negros, os despossuídos economicamente e homossexuais começam a adquirir seus direitos de igualdade expressos na Constituição. Não acredito que as pessoas que combatam essas políticas querem igualdade. Na minha opinião, querem garantir seus privilégios”.

Para ler a matéria com Carmem Sílvia Moretzsohn na íntegra, escrita pela repórter Ana Gabriela Nascimento, acesse o site da Agenc (www.agenc.uerj.br).

Para assistir ao documentário Flawed Beauty, acesse http://www.youtube.com/watch?v=xfldf7vwzLA.

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