"Eu posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o direito de dizê-las" - Voltaire

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Preconceito separa famílias

Mariluce não fala com sua filha há 9 anos |
 Créditos: George Soares

Apesar de o Brasil ser um país de maioria católica (37%), outras religiões vêm conseguindo cada vez mais espaço. Segundo dados do Censo 2010 realizado pelo IBGE, 32% da população brasileira se declara evangélica/protestante,  20% se diz como praticante de religiões de origem africanas (candomblé/umbanda) e 11% é adepta de alguma outra religião.


A dona-de-casa Mariluce Ferreira Garcia, de 67 anos, não foi ao casamento suas duas filhas. Nunca conversou com seus genros e só conseguiu pegar o neto no colo uma vez, porque a encontrou por acaso na rua. Tamanha indiferença não foi causada por nenhuma briga ou disputa familiar. A intolerância religiosa rompeu com todos os laços que uniam a mãe às filhas. Mãe-de-santo, candomblecista e filha de Iemanjá, Mariluce se magoa ao lembrar que o marido de sua filha a acusa de carregar “espíritos malignos” dentro dela.

- Se eu for visitá-la, ela diz que eu deixarei um demônio lá. Se meu neto adoecer, a culpa será minha por ter uma energia negativa, segundo ela.  Eles não pensam, apenas repetem o que escutam na igreja.

A dona-de-casa conta que uma vez soube que seu neto estava com febre e quis ajudá-lo.  Um vizinho que tinha carro se ofereceu para levá-los ao hospital mais próximo. Seu genro, ao saber que a avó iria até a casa, não permitiu que ela entrasse, afirmando que o menino seria curado através de um grupo de oração.

Curiosamente, foi a doença que fez Dona Mariluce iniciar na religião. Quando mais nova, sua filha contraiu hepatite.  Condenado pela medicina tradicional, a garota foi curada frequentando um terreiro de candomblé.


"Se eu for visitá-la, ela diz que eu deixarei um demônio lá"
Mariluce Ferreira Garcia

Em 1997, o fundador e bispo Edir Macedo provocou a ira de católicos no país ao chutar uma imagem da Nossa Senhora de Aparecida, padroeira do Brasil. Ele afirmava que aquilo era apenas imagem (a religião que Edir Macedo conduz, não prega o culto a santos ou idolatra imagens), não havia nada de especial.

Theo Azambuja, pós-graduado em Teologia pela PUC-Rio, aponta que esses fatos são, em parte, uma forma de se construir uma identidade em detrimento à outra. No entanto, ele faz a ressalva: “o que constrói a espiritualidade da pessoa não é o culto ou a religião que possui, mas sim o comportamento deste diante da humanidade em geral”, diz.

Desde 2010, é possível denunciar crimes de intolerância religiosa. A Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial firmou uma parceria com o Ministério da Justiça para criação de delegacias especializadas em crimes étnico-raciais e religiosos no Brasil. Nas delegacias, trabalham policiais treinados para identificar todo tipo de ofensa, além de psicólogos e assistentes sociais que possam dar auxílio nesses nos casos. 

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